O Hino Nirvāṇaṣaṭkam: Experiências e Riscos do Estado de Consciência Desperta
No quinto post do Momento Ekāgra, exploramos o célebre hino Nirvāṇaṣaṭkam – seis estrofes que apontam para o “eu” além de todo limite. Discutimos por que, ao atingir este vislumbre de nirvāṇa, podem surgir sensações extremas e até riscos psicossociais.
O Nirvāṇaṣaṭkam, atribuído a Ādi Śaṅkara, nega tudo o que é transitório – mente, corpo, desejos, mesmo a noção de eu e mundo – para revelar a essência cid-ānanda (consciência-bem-aventurança). Quem vivencia esse estágio relata:
- Êxtase sem limites: sensação de fusão com o cosmos, paz absoluta.
- Desorientação existencial: perda de referências de espaço/tempo e de papéis sociais.
- “Soltura” radical: abalo profundo da vontade, como se nada mais importasse.
Embora esse insight seja o ápice do Advaita, a literatura de psicologia social alerta para o suicídio anômico: um colapso de normas e sentido que, em indivíduos despreparados, pode levar ao desespero e ao abandono da própria vida. Ao dissolver os laços com desejos, família e até o instinto de sobrevivência, o praticante sem suporte adequado corre risco de se sentir “à deriva”.
Portanto, a libertação descrita no hino não é apenas luz, mas também abismo. É fundamental:
- Ter guia experiente para contextuar a prática.
- Manter apoio comunitário (satsanga) para reintegrar o insight à vida cotidiana.
- Equilibrar samādhi com saṃskāra – as marcas de ética e disciplina que sustentam o praticante.
O Nirvāṇaṣaṭkam aponta o caminho para a conquista do “eu ilimitado”, mas quem avança sem amparo pode enfrentar a anomia – a perda de sentido e o sentimento de existir “demais” para este mundo. Reconhecer a profundidade e o perigo desse vislumbre é tão vital quanto o próprio esforço de transcender.